— Diga-me, srta.Clarke, como foi escolhida para ser secretária do noticiário. Eu nem me lembro de ter colocado anúncio pedindo secretária, mas sou apenas o diretor por aqui! Acho que é esperar muito que alguém me conte o que está acontecendo no meu próprio departamento.
(S/N) sentiu que um calor subia por seu pescoço. Era raiva, sem dúvida. Mas sabia como controlá-la. Só não sabia controlar a confusão que aqueles olhos verdes estavam causando em sua mente.
— Eu... eu fui contratada pelo... pelo gerente-geral — disse, envergonhada por ter esquecido o nome do homem num momento tão inconveniente.
— Claro — foi a resposta fria. — "Por que" você foi contratada? É isso o que eu quero saber: Foi entrando lá e sorrindo para o querido Liam Payne ou ele saiu procurando você? Onde ouviu falar sobre este emprego?
Ela respirou fundo, antes de responder.
— Meu tio...
— Pistolão! — ele cuspiu a palavra como se ela tivesse um gosto horrível. — Eu devia ter imaginado. E quem é esse seu tio? O zelador? Ou o primo em segundo grau do presidente da empresa? — A voz dele tinha ficado assustadoramente suave.
— Meu tio é... era... Jonh Clarke, um jornalista muito respeitado aqui em Camberra. E não sei nada sobre pistolões. Deram a entender que havia um emprego aqui e que eu tinha os requisitos necessários para preencher a vaga. — O ódio fez com que o seu medo e confusão diminuíssem. Agora, encarava Harry Styles, e seus olhos brilhavam como duas esmeraldas.
— Certo. Bem, já que sabe tanto, srta. Clarke, talvez consiga explicar que tipo de qualificações tem que podemos usar. — Novamente, ele a estava olhando de alto a baixo, e (S/N) sentiu-se despida.
— Qualificações de secretária, claro. Sou datilógrafa, muito boa estenógrafa e já me disseram que atendo ao telefone muito bem.
— Há quanto tempo está em Camberra? — ele interrompeu.
— Três dias, mas...
— Três dias? Três dias completos? Que "bom" para você. Então, o que conhece? Sabe andar pela cidade? E sabe alguma coisa sobre televisão? Sobre noticiário de tevê? Não estou interessado em novelas. Vamos, srta. Clarke, conte-me!
Ele se aproximou e ela recuou. A ameaça daqueles olhos transparentes era terrível. (S/N) continuou se afastando, até que bateu numa mesa e quase caiu. Ele a segurou pelo braço.
— Vai responder, ou vai tentar fugir?
— Mas... você está falando de conhecimentos jornalísticos e eu nunca disse que tinha isso. Tenho um curso noturno em comunicações, mas...
— Mas, nada! É disso que estou falando, srta. Clarke. Preciso de conhecimentos que possam ser usados. Eu "sei" bater à máquina, "sei" taquigrafia, "sei" atender ao telefone. E tudo isso, tão bem quanto você, moça. Não me adianta nada você saber atender ao telefone, se não sabe fazer as perguntas certas e reconhecer as respostas certas. Significa apenas que alguém terá de fazer tudo outra vez. Se é realmente uma boa secretária... isto é, uma profissional honesta, não há mesmo lugar para você aqui, porque vai se aborrecer terrivelmente. E eu já tenho muito o que fazer para ainda me preocupar com uma garotinha aborrecida, que fica de papo com os meus jornalistas e faz com que se esqueçam do motivo pelo qual estão aqui.
(S/N) afastou-se, preparada para rebater as acusações, mas ele olhou o relógio na parede.
— Droga! Até eu já comecei a fazer isso. Louis! Pegue um cameraman e vá até a CNDC. Dentro de quinze minutos haverá uma entrevista coletiva. Provavelmente, vão fazer só a propaganda de sempre, mas não podemos perder. Depois, fique de rádio ligado e vamos ver o que acontece.
Louis correu para a porta, sem dúvida satisfeita por sair dali. Styles virou-se para (S/N).
— Primeira lição, srta. Clarke. CNDC... Comissão Nacional para o Desenvolvimento do Capital. O equivalente a uma comissão de planejamento, mas com poder total... burocracia no mais alto grau. Muito, muito importante em Camberra; mas não no momento. Agora eu gostaria de saber o que vou fazer com você.
Harry olhou em volta em silêncio, e (S/N) viu que uma veia pulsava em sua testa. Depois de um momento, indicou uma carteira do tipo escolar que estava em um canto, cheia de jornais. Parecia estar jogada ali há anos.
— Aquilo serve. Limpe aquela bagunça, depois puxe uma cadeira, sente-se lá e fique quieta por um momento. Tenho muita coisa a fazer, para perder tempo com você agora.
— Mas... mas o que vou fazer?
Não levaria muito tempo para arrumar a mesa e não estava disposta a ficar ali, sentada, como uma aluna de castigo. Ele respondeu com uma risada inesperada, mas (S/N) viu que o riso não lhe chegava aos olhos verdes.
— Deus me livre, não me diga que quer trabalhar. Pensei que ficaria muito feliz em passar o dia lixando as unhas e planejando suas seduções. Claro que não vai querer complicar a situação, trabalhando, não é? — De repente, abandonou o sarcasmo e a olhou, com curiosidade.
— Certo. Comece limpando a mesa; depois leia os jornais que tirou dali. Leia mesmo... tudo, dos títulos até os classificados. Que tal?
— Está bem. Obrigada. — (S/N) respondeu friamente, virando-se para a mesa. Compreendeu, sem precisar de explicações, que aquela leitura a faria entender o que estava acontecendo em Camberra.
Trabalharam em silêncio total durante duas horas. Ela se concentrou na tarefa, quase se esquecendo da presença de Harry. Ele também parecia passar a maior parte do tempo lendo e atendendo aos telefonemas.
Mas, logo depois do meio-dia, (S/N) já tinha terminado todos os jornais e começou a imaginar o que poderia fazer. Apesar de ele não dizer uma palavra, tinha certeza de que Harry Styles sabia que ela havia terminado a leitura e que estava esperando para ver o que faria.